“Cabeça do crime organizado não está no barraco da favela”, diz Boulos

Empossado nesta quarta-feira (29) como novo ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Guilherme Boulos fez críticas contundentes à Operação Contenção, que deixou ao menos 119 mortos nas favelas da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro. O discurso ocorreu no Palácio do Planalto, diante do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não discursou durante a cerimônia.
“Tenho orgulho de fazer parte do governo do presidente que sabe que a cabeça do crime organizado desse país não está no barraco de uma favela. Muitas vezes está na lavagem de dinheiro lá na [Avenida] Faria Lima, como vimos na Operação Carbono Oculto da Polícia Federal”, declarou Boulos.
Logo no início de sua fala, o ministro pediu um minuto de silêncio em homenagem “a todas as vítimas”, incluindo os policiais e os moradores das comunidades atingidas.
Com 43 anos, Boulos é deputado federal licenciado pelo PSOL de São Paulo, eleito em 2022 com mais de 1 milhão de votos — o mais votado do estado e o segundo do país. Ele é filho dos médicos infectologistas Maria Ivete e Marcos Boulos e tem trajetória marcada pelo ativismo urbano e defesa dos movimentos sociais.
A cerimônia contou com a presença do vice-presidente Geraldo Alckmin e de ministros como Fernando Haddad (Fazenda) e Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), além de centenas de representantes de movimentos sociais.
Boulos afirmou que sua missão será “ajudar o governo na rua”, promovendo a articulação entre o Planalto, os movimentos sociais e a sociedade civil. Segundo ele, o diálogo precisa alcançar não apenas apoiadores, mas também “entregadores e motoristas de aplicativos”.
“As políticas que mudam vidas não nascem só nos palácios e nos gabinetes. Elas nascem do povo, dos territórios populares, das ruas”, disse.
Ao encerrar, o ministro agradeceu aos militantes que o acompanharam em sua trajetória: “São companheiros que não tiveram a oportunidade de sentar no banco da escola, mas me ensinaram o valor da solidariedade — lição que eu não aprendi com nenhum professor da universidade.”