DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA: É preciso falar sobre o racismo!

Não é deixando de falar sobre o tema, como defendem muitos ‘branquelos’ que amam espalhar, sempre no dia 20 de novembro, um antigo vídeo do ator norte-americano Morgan Freeman, minimizando o debate racial, que o racismo deixará de existir. É preciso falar sobre racismo, sim! E com urgência! Não falar de racismo não vai fazer o crime desaparecer. O racismo no Brasil é estrutural e intrínseco. Muitas pessoas são racistas sem perceber, ao julgar comportamentos, antecipar opiniões sobre negros ou simplesmente ignorá-los.
Cresci ouvindo piadinhas de ‘preto’, mas confesso que elas nunca me abalaram. Quando era chamado pelos coleguinhas de ‘chupim’, ‘saci de duas pernas’, ‘rolo de fumo’, simplesmente não reagia. Fugia das provocações estudando e praticando leitura. Cheguei ao absurdo de ouvir que ‘negro não tem alma’. Muitas piadas eram feitas sob o olhar silencioso das professoras brancas da época, sem generalizar, claro. E assim cresci sem me importar com a pequenez das pessoas que deliravam em gargalhadas fazendo piadinhas. Algumas tentavam ser mais cordiais e só pioravam as coisas. ‘Ele é negro, mas é muito inteligente’. Cansei de ouvir também que eu era ‘negro, mas de alma branca’.
E isso persiste até agora. A elite branca de olhos azuis, verdes, ou da cor que seja, ainda torce o nariz para ascensão da negritude. Há alguns anos, estava junto com um colega de trabalho em uma associação de classe que reúne os maiores PIBs de Cascavel. Um grande empresário da cidade perguntou ao colega quem era o seu ‘chefe’ direto. Percebi o ar de desconfiança e negação quando o colega apontou para mim dizendo que era eu. Depois, não sei se por remorso, o empresário trocou algumas palavras comigo antes de sair.
Há alguns anos estava em Toledo na casa da minha irmã, que já faleceu. Era um domingo e acontecia um churrasco que reunia várias pessoas, boa parte eu nem conhecia. Logo após o almoço, me despedi do pessoal e um senhor bem simpático disse que era cedo e que eu deveria aproveitar o domingo. Respondi que iria trabalhar ainda naquela tarde. Ele me perguntou onde eu trabalhava e respondi que era em um jornal da cidade. Foi quando eu percebi o quanto as pessoas são racistas, até mesmo sem querer. O homem simpático foi logo perguntando e tentando adivinhar minha profissão. ‘O que você faz lá, é entregador?’ questionou ele, como se entregar jornal fosse a única tarefa que um negro pode fazer em uma empresa de comunicação. Respondi que eu era o editor-chefe e ele me olhou com cara de espanto.
O racismo faz parte do dia a dia e não falar sobre ele só estimula a prática. Esta semana, o STJD mostrou o quanto é conivente com o racismo ao devolver os pontos ao Brusque no caso do jogador Celsinho, do Londrina, que foi alvo de injúria racial. Enquanto não houver consciência humana, precisamos não apenas de um, mas 365 dias de consciência negra. E os avanços dos negros precisam estar estampados em manchetes jornalísticas, sim! Falar sobre o racismo é não permitir que um passado sombrio da nossa história caia no esquecimento e volte de forma sutil, como acontece atualmente