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OPINIÃO

Doses homeopáticas: a preparação silenciosa para a condenação de Bolsonaro

Luiz Carlos da Cruz – jornalista

Em doses homeopáticas, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), vem conduzindo um processo que, aos olhos atentos da sociedade, mais parece uma campanha de adaptação psicológica da população brasileira à eventual condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro. Primeiro, vieram medidas cautelares tidas como pontuais: apreensão de passaporte, bloqueio de redes sociais, retenção de celular. Agora, a tornozeleira eletrônica. E, ao que tudo indica, a próxima dose poderá ser a sentença, que se fala nos bastidores, pode ultrapassar quatro décadas de prisão.

Tal roteiro, por mais legal que se pretenda, levanta dúvidas quanto à sua motivação e à forma com que está sendo conduzido. A Justiça, que deveria ser o último reduto da imparcialidade, parece cada vez mais se deixar contaminar por disputas políticas — algo perigoso em qualquer regime democrático.

A referência ao poema do pastor luterano alemão Martin Niemöller, frequentemente citado quando se fala em omissão diante de abusos de autoridade, ganha peso nesse contexto. Nele, Niemöller descreve o silêncio cúmplice que permeou a ascensão do regime nazista, com cada grupo social sendo eliminado sob os olhares apáticos dos demais — até que não houvesse mais ninguém para protestar.

“Quando levaram os comunistas, fiquei em silêncio; eu não era comunista…”
O alerta é claro: a complacência diante de excessos, mesmo que contra aqueles com quem não se compartilha afinidade política, é a porta aberta para a erosão das liberdades de todos.

É legítimo que se investiguem os atos de 8 de janeiro. É necessário, inclusive. Mas o que se questiona aqui não é a apuração em si, mas sim o modo como ela vem sendo conduzida — com delações premiadas de réus acuados, ações midiáticas e decisões monocráticas que parecem mais políticas do que jurídicas. A pergunta que fica é: está-se buscando justiça ou uma vingança institucionalizada?

A lógica do “acostumar para aceitar” lembra regimes que não prezam pela liberdade, e sim pelo controle gradual. Quando a condenação de Bolsonaro for finalmente anunciada — se for —, é possível que grande parte da sociedade a encare como um episódio comum. Mas o fato de que essa percepção foi construída ao longo do tempo, passo a passo, sem o contraditório pleno, deve ser motivo de inquietação, e não de conformismo.

Se há provas robustas e indiscutíveis, que sejam apresentadas com transparência, em um julgamento isento. Do contrário, estaremos entrando numa perigosa zona cinzenta em que a justiça se confunde com a política — e a liberdade com a conveniência.

“Quando os nazistas levaram os comunistas, fiquei em silêncio; eu não era comunista. Quando levaram os sindicalistas, fiquei em silêncio; eu não era sindicalista. Quando prenderam os social-democratas, fiquei em silêncio; eu não era social-democrata. Quando prenderam os judeus, fiquei em silêncio; eu não era judeu. Quando vieram me buscar, não havia mais ninguém para protestar”.

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