Feirão do tráfico no centro de Brasília exibe placa de “Crack por R$10”
A ousadia dos traficantes que operavam na região da Rodoviária do Plano Piloto, em Brasília, não apenas impressionou, mas também foi registrada por eles mesmos e divulgada nas redes sociais. Imagens chocantes obtidas pela coluna mostram os criminosos ostentando várias notas de R$ 200 em frente a uma placa anunciando o valor das drogas com os dizeres: “Crack é R$ 10”.
Este grupo foi alvo de uma megaoperação lançada pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) nas primeiras horas desta quarta-feira, 30 de agosto. A ousadia demonstrada nas redes sociais apenas adicionou um componente surreal a essa operação policial destinada a desmantelar duas associações criminosas que haviam loteado a área central da capital da República em pontos de venda de drogas, controlando o tráfico de cocaína, crack e maconha. Estes pontos ficavam a aproximadamente 1 km da emblemática Esplanada dos Ministérios, o coração de Brasília.
As equipes da PCDF estão cumprindo um total de 70 mandados judiciais – 36 para busca e apreensão e 34 para prisões temporárias – todos emitidos pela 5ª Vara de Entorpecentes de Brasília. As investigações, conduzidas pela 5ª Delegacia de Polícia (Área Central), foram iniciadas em setembro de 2021 e identificaram duas gangues operando em colaboração na região, incluindo a Rodoviária do Plano Piloto, um shopping local, o Conic, o Setor Comercial Sul (SCS) e áreas circundantes.
Além de seus ousados registros de ostentação, os criminosos também documentaram sua vida cotidiana nas redes sociais, incluindo festas repletas de bebidas importadas. As autoridades estão investigando a atuação dessas duas associações criminosas que efetivamente dominaram o comércio de drogas no centro de Brasília.
As operações de investigação revelaram que esses grupos desenvolveram métodos eficientes para a venda de drogas que tornavam difícil a atuação das forças de segurança. Os traficantes encarregados do transporte das drogas recolhiam os entorpecentes nos locais de armazenamento – frequentemente localizados em Ceilândia e nos arredores do Distrito Federal – no exato momento em que as forças de segurança estavam realizando trocas de turno.
As drogas eram então entregues aos encarregados de sua guarda e vigilância, que as escondiam em diversos pontos estratégicos, como a Rodoviária, o shopping, o Conic e o SCS. A partir daí, outros membros das gangues distribuíam as substâncias em pequenas quantidades para os traficantes responsáveis por vender aos usuários. Normalmente, indivíduos em situação de rua, adolescentes e dependentes químicos eram recrutados para comercializar as drogas.
O dinheiro ou objetos recebidos como pagamento eram entregues a outros membros das gangues. Aqueles responsáveis por guardar os produtos e o dinheiro muitas vezes desempenhavam funções na área central de Brasília, como ambulantes, flanelinhas, vigias e até mesmo taxistas.
Além disso, os grupos criminosos também utilizavam serviços de motoristas de aplicativos e táxis tanto para transportar as drogas quanto os clientes.
Este método elaborado permitia que as associações criminosas evitassem a prisão de muitos de seus membros. Frequentemente, a polícia conseguia deter apenas os suspeitos diretamente envolvidos na venda das drogas, que carregavam quantidades pequenas o suficiente para serem acusados apenas de posse e consumo de substâncias ilícitas.
A operação da PCDF tinha como alvo todos os elos da cadeia de distribuição das drogas, desde os líderes até os envolvidos no transporte, guarda e venda dos entorpecentes, bem como na gestão do dinheiro obtido ilegalmente. Cerca de 275 policiais civis participaram da operação, incluindo equipes da Divisão de Operações Aéreas (DOA), da Divisão de Operações Especiais (DOE) e do Canil.
A ação policial abrangeu várias localidades, incluindo Ceilândia, Sol Nascente, Samambaia, Recanto das Emas, Asa Norte, Planaltina, Paranoá, Riacho Fundo, Riacho Fundo 2, Vicente Pires, São Sebastião, bem como os pontos estratégicos na área central de Brasília. A operação também se estendeu a cidades vizinhas no estado de Goiás, como Santo Antônio do Descoberto, Luziânia, Planaltina de Goiás e Valparaíso.
Os membros das gangues enfrentarão acusações de tráfico de drogas e associação para o tráfico, podendo ser condenados a penas que variam de oito a 25 anos de prisão. A operação representa um marco significativo no combate ao tráfico de drogas no coração da capital brasileira, demonstrando o compromisso das autoridades em manter a segurança e a ordem na região.