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ARQUIVO NACIONAL

Romarias sob vigilância: documentos revelam como o regime militar monitorava peregrinações religiosas no Paraná

Relatórios confidenciais de 1974 mostram acompanhamento das celebrações em Laranjeiras do Sul e Francisco Beltrão por órgãos de informação do Exército

Documentos sigilosos produzidos em novembro de 1974 e hoje preservados em acervos históricos mostram que o governo militar mantinha rigoroso controle sobre eventos religiosos de massa no Paraná, especialmente as romarias e festas em homenagem à Nossa Senhora do Rocio, padroeira do estado. Um relatório confidencial, enviado pelo Centro de Informações do Exército (CIE) à 5ª Região Militar, relata o acompanhamento minucioso de romarias realizadas em Laranjeiras do Sul e Francisco Beltrão, que reuniram milhares de fiéis rumo a Paranaguá.

Segundo o documento, as equipes de inteligência militar observaram os deslocamentos, anotações de discursos e até o comportamento dos participantes durante os eventos. Em Laranjeiras do Sul, a romaria partiu da Igreja Matriz em direção ao litoral, sendo acompanhada por agentes infiltrados entre os fiéis. O relatório registra que o evento transcorreu “sem incidentes”, mas ressalta o cuidado com possíveis manifestações contrárias ao governo.

Em Francisco Beltrão, o acompanhamento foi semelhante: o Exército monitorou a concentração de peregrinos na Praça Central e descreveu com detalhes a presença de lideranças religiosas e comunitárias, algumas consideradas de perfil “progressista”. O texto informa que não houve manifestações políticas explícitas, mas aponta “clima de emoção e fervor popular” que, segundo os analistas militares, exigia “observação atenta”.

Esses relatórios fazem parte de um conjunto mais amplo de registros do período de 1964 a 1985, quando o regime militar mantinha vigilância constante sobre movimentos religiosos, estudantis e comunitários. A preocupação das autoridades com as romarias devia-se ao fato de que a Igreja Católica começava a abrigar setores críticos à repressão, sobretudo em regiões rurais e empobrecidas do interior paranaense.

Os registros demonstram que o Estado via as manifestações de fé como possíveis espaços de contestação política, e, por isso, mobilizava policiais, militares e informantes civis para observar celebrações religiosas. Embora não haja registros de prisões ou confrontos nesses eventos, o tom dos relatórios evidencia a tensão entre o controle político e a expressão religiosa popular.

Hoje, ao serem revisitados, esses documentos têm valor histórico e não acusatório. Eles ajudam a compreender o contexto social e político de uma época em que até mesmo as expressões de devoção eram acompanhadas pelo aparato estatal. Ao revelar como as romarias de Laranjeiras do Sul e Francisco Beltrão foram monitoradas, o material contribui para a preservação da memória e reforça a importância de manter vivos os arquivos públicos como instrumentos de reflexão sobre o passado.

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