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Policiais suspeitos de se apropriarem de mercadorias apreendidas trabalham e até fazem escalas em Medianeira

Dos 15 policiais militares presos em uma operação do Gaeco em julho de 2021, dez são de Medianeira e seguem atuando na companhia enquanto respondem processos judiciais e administrativos

Medianeira (PR) – Em junho de 2021, a Operação Desviados 2, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) prendeu 15 policiais militares suspeitos de se apropriarem de mercadorias importadas de forma irregular. Na época das prisões, dez policiais estavam lotados na 2ª Companhia da Polícia Militar de Medianeira. O outros cinco, que atuavam em cidades próximas, também já haviam passado por Medianeira. Todos foram denunciados pela prática dos crimes de organização criminosa, peculato, prevaricação e falsidade ideológica.

Passados quatro anos do caso e em liberdade, eles seguem trabalhando na Polícia Militar de Medianeira, no setor administrativo, enquanto respondem a processos judiciais e administrativos. Na época, eles haviam sido afastados pelo comando da Polícia Militar.

Segundo as investigações, após se apropriarem das mercadorias, os policiais liberavam a pessoa abordada e produziam boletins de ocorrência com informações genéricas e sem descrição de produtos apreendidos, facilitando o desvio da mercadoria. Esta prática criminosa permitia que os policiais envolvidos agissem com impunidade, já que a falta de detalhamento nos registros oficiais dificultava o rastreamento dos itens e a comprovação do desvio. A ausência de uma documentação precisa e transparente comprometia a integridade do sistema e permitia que as mercadorias fossem desviadas sem deixar rastros, prejudicando tanto os proprietários dos bens quanto a credibilidade das forças de segurança.

A reportagem do Portal Cantagalo apurou que os policiais investigados, que atuam no administrativo, fazem até escalas dos demais colegas e que seriam protegidos pelo comando. Eles cumprem meio expediente, no período da manhã ou da tarde, ao contrário de outras companhias e batalhões onde o expediente é de 8 horas, conforme determina portaria do próprio comando-geral da corporação.

Os policiais estariam trabalhando no Centro de Operações Policiais Militares (COPOM), responsável por receber as denúncias feitas pelo telefone 190, à paisana e sem a supervisão de um oficial. Essa situação tem deixado outros policiais em posição desconfortável.

O Portal Cantagalo questionou o 14º BPM de Foz do Iguaçu, ao qual a Companhia de Medianeira é subordinada, se é normal policiais investigados atuarem na corporação e se não seria mais prudente trazer militares de outros batalhões para suprir a demanda. A reportagem quis saber, também, sobre as escalas feitas pelos policiais investigados.

O comando da PM em Foz encaminhou uma nota genérica, sem responder efetivamente aos questionamentos. Informou que “os militares estão desempenhando funções administrativas e trabalham sob supervisão de um oficial, enquanto respondem aos processos judicial e administrativo.”

Confira a nota na íntegra:

NOTA À IMPRENSA

A Polícia Militar do Paraná desde que tomou conhecimento das primeiras denúncias envolvendo policiais militares lotados na região de Medianeira, passou a apurar e auxiliar o Ministério Público, inclusive deu cumprimento aos mandados judiciais no ano de 2021 quando da eclosão da Operação.

Os militares estão desempenhando funções administrativas e trabalham sob supervisão de um oficial, enquanto respondem aos processos judicial e administrativo.

Criminalidade

Medianeira tem vivido um momento de criminalidade em alta, com vários assassinatos, casos de tráfico de drogas e furtos ao longo do ano. Somente nos sete primeiros dias de abril, três pessoas foram executadas na cidade, um número assustador para um município de 46 mil habitantes.

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