PARANÁ HISTÓRICO

A visita dos príncipes do Japão a Maringá – 1978

Como Maringá entrou na rota dos então herdeiros do trono do Japão durante as festividades de 70 anos da Imigração Japonesa no Brasil, em junho de 1978?

As negociações iniciaram meses antes da visita oficial por intermédio do secretário de Administração do Município do governo de João Paulino, Yoshiaki Oshiro. Além dessas articulações houve um fato que beneficiou Maringá naquela oportunidade. Segundo os jornais da época, no final de maio de 1978 o Aeroporto de Londrina passou por reformas e teve que ser interditado. Com isso, pela primeira vez na história, o Aeroporto Regional Gastão Vidigal passou a receber durante o período de 60 dias, voos da capital do café. Especialmente, os operados pela Transbrasil por meio do Boeing 727.

Com capacidade para 72 passageiros, essa aeronave fez a rota Maringá-Curitiba e Curitiba-São Paulo, com dois horários diários, durante dois meses. Mas para que aquela operação fosse viabilizada, o aeroporto local passou por melhorias em sua infraestrutura. E foi o secretário municipal Yoshiaki Oshiro, o responsável por liderar aquela obra. Oshiro sabia que o tempo era curto, pois havia a possibilidade de a cidade receber uma visita imperial dentro de poucas semanas. Afinal, o deputado federal Antonio Ueno estava negociando a possibilidade de Maringá ser inserida na rota das festividades do IMIN 70. Dias mais tarde houve a confirmação.

Os príncipes do Japão, Michiko e Akihito, desembarcaram em Londrina no dia 20 de junho de 1978, por volta das 10h15. Quem os recepcionou foi o vice-governador do Paraná, Octávio Cesário Pereira Júnior. Os herdeiros do trono japonês haviam passado por Brasília, São Paulo e cidades do interior paulista.  O governador Jayme Canet Júnior estava em Maringá, junto do ex-ministro da Educação Ney Braga, do prefeito municipal João Paulino e grande comitiva, para recepcionar o presidente da República, Ernesto Geisel. Logo que chegou, o presidente se reuniu no saguão do aeroporto para conversar com membros da cúpula da Arena e demais autoridades maringaenses.

Depois, a comitiva seguiu em carreata por Maringá, passando pela avenida Getúlio Vargas, Paço Municipal, avenida Tiradentes, avenida Paraná e, por fim, avenida Colombo, de onde seguiram para a cidade destino daquela manhã. Às 11h45, Geisel, os príncipes do Japão e demais autoridades se encontraram em Rolândia, onde ocorreu a solenidade oficial do IMIN 70 anos.

Rolândia havia sido selecionada para sediar o evento pelo fato de possuir, na época, o maior número proporcional de descendentes nipônicos dentre todos os municípios no Brasil. Então, inaugurou-se naquela cidade o Museu da Imigração Japonesa.

Depois, os príncipes seguiram para Maringá de carro às 14h30. Pelo caminho, a comitiva passou pelas cidades de Arapongas, Apucarana, Jandaia do Sul, Mandaguari e Marialva. De Maringá, o presidente Geisel e sua esposa, Lucy, retornaram a Brasília.

Em solo maringaense, por volta das 17h, Michiko e Akihito, junto de autoridades, foram direto para o terreno da futuro sede da Associação Cultural e Esportiva de Maringá, a ACEMA, na atual avenida Kakogawa. Ali foi realizado o lançamento de sua pedra fundamental. Quem presidiu aquela Comissão de Recepção foi Noboro Okimoto. Na sequência, a comitiva seguiu para o centro da cidade, onde uma grande multidão aguardava para ver de perto o casal imperial. Da ACEMA, seguiram pela avenida Pedro Taques, passando por boa parte da avenida Brasil até chegar a avenida Getúlio Vargas.

Ao longo do caminho, estudantes das então 38 escolas da cidade os recepcionaram com bandeirinhas do Japão e do Brasil. Na ocasião, 20 mil delas foram distribuídas aos alunos que ficaram espalhados pelas avenidas Brasil e Getúlio Vargas, desde a praça Rocha Pombo até o Paço Municipal, onde a comitiva fez mais uma parada. Na sede do Executivo Municipal, Akihito e Michiko foram recebidos pelo prefeito João Paulino, quando ocorreu a troca de homenagens.

Durante anos foi disseminada a versão de um fato envolvendo a princesa Michiko e um ipê, plantado na avenida Brasil. Certamente, a narrativa foi aprimorada para valorizar o ocorrido. Segundo informações da época, Michiko teria pedido para a sua comitiva parar em frente à Igreja São José Operário, na Vila Operária, onde um ipê-roxo estava florido. Ela teria descido do carro para fazer uma reverência. Mas, a bem da verdade é outra. MIchiko não teria descido do carro nem pedido para a comitiva parar. Apenas fez um comentário elogioso sobre a árvore florida.

O próprio fotógrafo oficial daquela visita, Kenji Ueta, revelou antes de falecer que a foto que acabou se popularizando havia sido fruto de uma cuidadosa montagem feita por ele, a fim de ilustrar aquela passagem. O Ipê-Roxo desta história acabou ganhando o nome de “Árvore da Imperatriz”, tornando-se o Marco Imperial da cidade. No ponto há uma placa que demarca o que teria supostamente ocorrido.

Durante a noite do dia 21 de junho de 1978, um jantar foi organizado para os príncipes do Japão no Clube Hípico de Maringá. O governador Jayme Canet Júnior junto da primeira dama do Estado, Lourdes Canet, o prefeito João Paulino, demais autoridades e empresários, marcaram presença naquele evento. Um coral infantil cantou uma canção cuja letra foi escrita pela princesa na época em que cursava o segundo grau. A regência ficou sob a batuta da professora e cantora lírica Yaeko Miyamoto, que foi acompanhada pelo professor, maestro e pianista, Aniceto Matti. Um coral de Marialva também teria participado daquele evento.

O casal pernoitou no Hotel Bandeirantes, o mais luxuoso da época. Um quarto foi especialmente elaborado para a ocasião, quando peças de madeira foram cuidadosamente confeccionadas. O proprietário do estabelecimento, o comendador Jakob Zwecker veio para cumprimentar os príncipes.

No dia seguinte, em 21 de junho, logo pela manhã o casal imperial visitou o Jardim Japonês, no interior do Parque do Ingá, que foi preparado em caráter de urgência para ser inaugurado naquela oportunidade. Concebido pelo arquiteto Sidney Barros do Lago, da assessoria de Arquitetura da Prefeitura, o jardim se apresentou com uma área de aproximadamente 5 mil m². Nele foram instalados blocos de pedra, pinheiros japoneses, dois pagodes pintados por um nipônico que representam pequenos templos, três lagos interligados por pequenas pontes e uma ilha central. Ainda, duas toneladas de grama japonesa foram adquiridas para serem plantadas no local. Quatro pássaros de concreto também foram instalados nos pequenos lagos. As pontes foram construídas pela Marcenaria Moderna, de Saburo Matsuzawa, empresa fundada em Maringá no ano de 1956. Elas foram inspiradas na ponte que existe no Parque Ritsurin, em Takamatsu, no Japão.

Depois daquela que foi a última solenidade em solo maringaense, o casal imperial seguiu para o Aeroporto Regional Gastão Vidigal, onde se despediram da comitiva que os acompanhou durante sua estada no Paraná. Na sequência, Michiko e Akihito foram para São Paulo e demais cidades brasileiras, dando sequência as comemorações do IMIN 70 anos.

Quanto a Akihito, ele foi o primeiro imperador do Japão a se casar com uma cidadã comum, a plebeia Michiko Shoda, em 1959. Em abril de 1989, de acordo com a ordem tradicional de sucessão, Akihito se tornou imperador do Japão. Mas, 30 anos depois, o imperador Akihito renunciou o trono em favor de seu filho mais velho, o príncipe herdeiro Naruhito.

Fontes: Acervo Kenji Ueta – Foto Maringá / Acervo ACEMA / Acervo Maringá Histórica.

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