O legado da Tia Marica
Maria de Lourdes Silva Padilha nasceu em Laranjeiras do Sul, em 22 de agosto de 1946, filha de João Juvenal da Silva e Theodora Kiçula da Silva. Era a filha mais velha de oito irmãos, cinco mulheres e três homens. Residiu em Prudentópolis e Virmond, sempre dedicada aos estudos.
Trabalhou como babá e doméstica, e seu irmão Jorge sempre conta que foi seu “segurança” quando ela começou a dar aulas, por volta dos 16 ou 17 anos, em uma comunidade chamada Ilaça. Eles acordavam cedo, pois às 8 horas precisavam estar na escola. A turma era multisseriada, com alunos do 1º ao 4º ano, e nesse tempo, seu irmão brincava no mato enquanto ela lecionava. Ela nunca reclamou, pois, independentemente do tempo, seguiam o trajeto a pé, com sol, frio ou chuva, até que ela adoeceu e teve pneumonia, ficando um bom tempo acamada.

Naquela época, a professora, além de ensinar, precisava limpar a escola, e seus alunos tinham muito respeito e consideração por ela. Nunca reclamou da vida que levava, pois sempre gostou do que fazia. Seu pai bebia e, ao chegar em casa, maltratava a todos, e foram vários os momentos em que acabaram dormindo no mato.
Namorou por oito anos com João Padilha. Sua mãe a incentivava a fugir, pois seu pai não consentia o namoro, mas ela dizia que queria casar na igreja. No dia do casamento, em 27 de julho de 1972, seu pai não compareceu, pois estava na construção de casas da Laminadora do Chemin para os funcionários. Assim, seu irmão Jorge, com quem sempre teve uma grande relação, ajudou a coordenar o churrasco da festa. Segundo ele, uma semana depois, seu pai foi visitar a filha e o marido em sua casa, como se nada tivesse acontecido.
Anos se passaram, e Marica, como era chamada, continuou seus estudos, formou-se no Magistério em Guarapuava e continuou a fazer o que mais gostava: lecionar. Sempre trabalhou de manhã e à tarde, buscando construir um futuro para a família, que já tinha dois filhos: Andréa e Anderson. Por três décadas, alfabetizou a população de Cantagalo e ajudou a coordenar o Projeto Hapront, formando outras professoras que atuavam sem a devida formação. Muitos dos alunos que passaram por suas mãos se formaram como médicos, professores, enfermeiros, entre outros. Construiu um legado com sua profissão.
Quando se aposentou definitivamente, sua saúde estava debilitada. A diabetes a prejudicou bastante, e ela sempre dizia que, quando era jovem, não tinha o que comer por ser pobre, e agora que tinha dinheiro, precisava se limitar ao que comer. Em 1992, Tia Marica teve um AVC e se afastou da escola por um período. Seus irmãos Jorge e Júlio vieram de Curitiba para levá-la e fazer tratamento médico lá. Ela perdeu por um tempo os movimentos do lado esquerdo, que foram voltando com a fisioterapia e o tempo.
Família
Como seus pais também residiam em Cantagalo, nos finais de tarde a família costumava visitá-los. Eram momentos muito bons, comchimarrão, a deliciosa comida preprada pela vó Theodora, brincadeiras e o retorno só acontecia ao anoitecer.
Tia Marica, como era carinhosamente chamada, sempre cultivou laços fortes com a família. Os encontros nas tardes para tomar chimarrão e saborear a comida caseira de sua mãe, bem como as reuniões festivas nos natais e outras comemorações, eram momentos de alegria e união.
Seu legado permanece vivo nos corações de todos que tiveram o privilégio de conhecê-la e aprender com ela. Professora dedicada, esposa, mãe e amiga, Maria de Lourdes deixa um exemplo de força, amor e compromisso com a educação e a família.
A família agradece a todos pelas mensagens de carinho e apoio neste momento difícil. Que sua memória seja sempre lembrada com respeito e saudade.
Tia Marica faleceu no dia 1º de março, aos 79 anos.